Médico fora do peso enfrenta preconceito

O paciente olha com desdém – secretamente ou não tão secretamente – para o médico fora do peso, obeso ou com sobrepeso…  Sinceramente, não foi com surpresa que li os resultados do estudo  – The effect of physicians’ body weight on patient attitudes: implications for physician selection, trust and adherence to medical advice – publicado no International Journal of Obesity.

Há muito me interesso pelo tema preconceito contra a obesidade e suas cruéis implicações psicológicas e sociais.

E assim como as pessoas com excesso de peso são estigmatizadas em uma variedade de configurações pessoais e profissionais, os médicos com excesso de peso, segundo o estudo, são vistos como menos credíveis do que os médicos de “peso normal”.

Além disso, os pacientes são menos propensos a seguirem seus conselhos médicos.

As conclusões pungentes do estudo estão repercutindo, pois o excesso de peso cria nesses casos um entrave na relação médico-paciente.

Até pouco tempo atrás, era fácil para os médicos imaginarem que uma vez que colocassem o jaleco branco, estariam investidos de autoridade e os pacientes certamente ouviriam suas recomendações.

Mas este estudo diz que o jaleco branco não blinda mais o médico!

Este profissional precisa modificar a sua maneira de se comunicar, assumir que tem problemas para emagrecer e controlar o próprio peso, para que os pacientes possam se comunicar com ele de maneira verdadeira.

Muitas vezes, é preciso dar um tom confessional à consulta para não passar uma mensagem hipócrita: “eu também luto para perder peso e sei que é muito difícil. Médicos são seres humanos. Estamos sujeitos às mesmas doenças que o resto da sociedade. Perder peso é um problema extremamente difícil, é um desafio”.

O desafio de emagrecer

O preconceito contra as pessoas com excesso de peso é tão socialmente arraigado, que apesar de todo médico (teoricamente) ser capaz de tratar a obesidade, poucos são os que conseguem manter um diálogo franco sobre o tema com seus pacientes.

Por outro lado, é preciso compreender que os pacientes classificam os médicos com mais rigor: “se ele é um profissional de saúde não deveria estar lutando contra o aumento de peso”, esse é um pensamento muito comum de muito pacientes.

Toda essa situação delicada dentro do consultório, essa rusga na relação médico-paciente, os resultados do estudo, o preconceito contra o obeso só reforça uma convicção antiga: os médicos precisam usar sua influência social para liderar um movimento social que encare o preconceito em relação às pessoas que estão acima do peso.

Essa história de comer menos, se exercitar mais e fornecer uma dieta pronta para todos não está funcionando.

O médico precisa se certificar de que os pacientes compreendem perfeitamente os diversos fatores que contribuem para o excesso de peso, incluindo genética, composição dos alimentos, saciedade, dentre outros.

É preciso mudar o tom da conversa sobre a perda de peso para que o comportamento social em relação ao obeso – seja ele médico ou paciente – mude também.

 Por Márcia Wirth

(reprodução autorizada com créditos)

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